domingo, 13 de julho de 2008

Clarice e o jornalismo brasileiro

"É curiosa esta experiência de escrever mais leve e para muitos, eu que escrevia 'minhas coisas' para poucos." (Clarice Lispector, Jornal do Brasil, 15/01/1972)

Antes mesmo de aprender a ler e escrever, Clarice Lispector já criava narrativas em parceria com sua amiga Anita. A autora fala sobre a mania de criança:
"Eu contava uma história, e quando ficava impossível de continuar, ela começava. Ela então continuava, e quando chegava em um ponto impossível, por exemplo, todos os personagens mortos, eu pegava. E dizia: 'Não estavam bem mortos.' E continuava."
Assim que se alfabetizou, com sete anos, Clarice começou a escrever contos e enviá-los para jornais, afim de ser publicada. Descobre, então, um jornal de Recife, cidade onde morava, que publica as melhores contribuições de seus pequenos leitores no chamado O Diário das Crianças, e dava prêmios aos autores mirins. Era o Diário de Pernambuco. Clarice envia seus textos, mas não obtém bons resultados. Mais tarde a escritora entende o porquê das rejeições: as histórias vencedoras relatavam fatos, as suas relatavam sensações e emoções. A autora dizia até mesmo gostar das histórias vencedoras mais do que as que ela escrevia, mas isto não foi suficiente para que Clarice mudasse o rumo de seus contos.
Clarice arrisca, aos nove anos, escrever uma peça de teatro que se chama A Pobre Menina Rica. Com vergonha de mostrá-la ao público, Clarice rasga as folhas que guardavam sua história.
Seus contos finalmente ganham força quando a autora tem catorze anos. Estes também não são publicados, mas Clarice os "empresta" ao escritor Affonso Romano de Sant'Anna, que logo notou que aquela não era uma menina qualquer.
Desde muito cedo certos detalhes ficam claros na escritora: o gosto por histórias que não terminam, o ato de fabular até nas brincadeiras infantis, a inclinação para tematizar sensações, o impulso por destruir as histórias que não lhe interessam mais e a necessidade de publicar seus textos.
Nossa Clarice se torna cada dia mais concreta.

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