sexta-feira, 11 de julho de 2008

Os vários mundos clariceanos

Assim como em seu trabalho ficcional, nas páginas da imprensa Clarice mantém um grande leque de variados temas, preocupações, gêneros e até mesmo algumas insubordinações. Clarice era repórter, entrevistadora, colunista, contista e cronista, ou seja, caminhou por quase todas as ruas do mundo da escrita.
Com várias caras e uma só cabeça, Clarice foi muitas. Em Comício, a escritora assinava como Tereza Quadros; no Correio da Manhã, seu pseudônimo era Helen Palmer, enquanto que no Diário da Noite a autora era a ghost writer da artista Ilka Soares.
Seu primeiro trabalho foi em A Noite, do Rio de Janeiro, em 1940, como repórter; suas últimas entrevistas foram publicadas em Fatos e Fotos/Gente, em 1977, dois meses antes de sua morte. Vemos, assim, que a vida jornalística de Clarice Lispector ultrapassou, em tempo, sua vida de ficcionista. Seu primeiro conto publicado foi Triunfo, em 1940, e apenas três anos depois Perto do Coração Selvagem, seu primeiro romance, é publicado.
Clarice vivia em constante ambiguidade, em um jogo de ser escritora ou ser jornalista e até mesmo ser ou não ser jornalista. Para ela era difícil pois doava-se tanto à profissão que se esquecia de si própria. Ela atendia a exigências do jornalismo de modo um tanto inusitado e fora de regra, sempre de forma excepcional, como atestam valiosos depoimentos de jornalistas que foram seus colegas na época.
Por dedicar-se tanto a este meio, Clarice não deixa suas aparentemente banais páginas femininas passarem despercebidas: com seu poder de atração e sedução, as mulheres se viam invadidas por ondas de mistério, prazer, revelações e descobertas quando liam as páginas de Clarice, independente de qual fosse seu pseudônimo.

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