sábado, 12 de julho de 2008

Na imprensa

"Mas por que livrar-se do que se amontoa, como em todas as casas, no fundo das gavetas?" (Clarice Lispector,Legião Estrangeira, 1964)

"Enfeitar-se é um ritual tão grave. A fazenda é um mero tecido, é matéria de coisa. É a esse estofo que com meu corpo eu dou corpo. Ah, como pode um simples pano ganhar tanta vida? Meus cabelos, hoje lavados e secados ao sol do terraço, estão da seda mais antiga. Bonita? Nem um pouco, mas mulher. Meu segredo ignorado por todos e até pelo espelho: mulher." (Clarice Lispector, Jornal do Brasil, 23/11/1968)


Um volume imenso de textos publicados em toda a imprensa brasileira: contos, traduções, crônicas, reportagens, entrevistas e até colunas femininas. É este o legado de Clarice Lispector ao mundo. Contudo, a própria Clarice dizia não ser jornalista e que nem mesmo gostava de atuar na imprensa. Seu grande sonho era, na realidade, se dedicar integralmente à literatura. Seu trabalho como jornalista era apenas para poder sustentar a si própria e a seus filhos.
Por várias vezes, entretanto, Clarice encontrou na imprensa o único meio de divulgação de seu trabalho, já que as editoras recusavam sem dó suas obras literárias. É, então, nas páginas de jornais e revistas que Clarice Lispector se comunica com um público diferente, utilizando uma linguagem simples e falando sobre as futilidades da mulher, temas tão banais da vida cotidiana, mas sempre escondida atrás de um pseudônimo.
Foi assim, por exemplo, na revista Senhor, que publicou alguns contos da jornalista - contos que, posteriormente, foram incluídos em Laços de Família (1960). Com a ajuda de um amigo jornalista, Alberto Dines, Clarice viu suas perspectivas na mídia crescerem, participando, então, diversas vezes do Diário da Noite (1960 e 1961) e do Jornal do Brasil (1967 a 1973).
Clarice Lispector fazia de tudo no mundo do jornalismo, ou melhor: quase tudo. Ela se recusava prontamente a produzir textos para editoria de polícia e notícias sociais. Clarice se interessava, na verdade, por mexer com as pessoas. A autora utilizava os espaços da imprensa feminina para instigar sua leitora a refletir sobre si mesma e sobre a vida, dirigindo a discussão para a leitura que a própria jornalista faz da mulher, da feminilidade, da moda, enfim do universo feminino.
Em Comício, os textos de Clarice somam 17, ao todo, em publicações da coluna Entre Mulheres, que ocupava uma página inteira do tablóide. Isso aconteceu em 1952. Os textos eram complexos e ricos.
Já no Correio da Manhã, a seção Feira de Utilidades, na página Correio Feminino, era publicada às quartas e sextas-feiras (de agosto de 1959 a fevereiro de 1961). As páginas eram ilustradas e os textos eram de natureza variada.
Ilka Soares entra em ação em abril de 1960 no tablóide Diário da Noite, e permanece em cena até março de 1961. Os textos eram publicados de segunda-feira a sábado, em página inteira.
É Clarice Lispector conquistando seu espaço.

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